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domingo, 19 de dezembro de 2010

Tem muitas histórias do Brasil nas telas de Tarsila do Amaral

Tem muitas histórias do Brasil nas telas de Tarsila do Amaral

O estudo do quadro Operários, de autoria da primeira-dama do modernismo, permite observar como o país ingressou no mundo industrializado, no início do século 20.


Operários: destaque da fase social da pintora, a tela
mostra os vários rostos dos trabalhadores da
recém-inaugurada indústria brasileira.
Foto: Reprodução
O trabalho da pintora passa por várias fases, como a pau-brasil, a antropofágica e a social. Desta última, que contribuiu para solidificar no nosso imaginário o início da industrialização do país, a tela Operários se destaca.

O quadro pintado em 1933 é um verdadeiro painel da nossa gente, a mesma que veio dos quatro cantos do país e do mundo para pegar pesado nas fábricas, que na época começavam a transformar a paisagem brasileira. "Trata-se de um marco histórico na obra de Tarsila, pois, se ela já fora no Brasil a precursora do cubismo e do surrealismo nas artes plásticas, detém-se agora na pintura de assunto eminentemente social", escreve Nádia Battella Gotlib, autora de uma das mais completas biografias da pintora.

Operários funciona como ponto de partida para você falar sobre o surgimento dos grandes centros urbanos brasileiros. Esse é o tema do roteiro indicado para turmas de 5ª a 8ª série que você verá a seguir. Ele contempla as disciplinas de Artes, História e Geografia e foi elaborado por Maria Lúcia Medeiros, professora da Escola Vera Cruz, em São Paulo; Roberto Giansanti, autor de livros didáticos de Geografia; e Marco Antônio Pasqualini, professor de Artes Plásticas da Universidade Federal de Uberlândia (MG). Depois, confira sugestão de atividades de Artes para classes de 1ª a 4ª série.
A nossa revolução industrial
Mostre para a classe a reprodução da tela que ilustra a página ao lado e aborde, inicialmente, a temática social. Pergunte o que os estudantes sabem sobre o funcionamento de uma fábrica e os processos de transformação de matérias-primas. Quais os setores industriais que mais prosperaram no Brasil? Ouça as opiniões e ensine que o conceito de fábrica foi criado pela Revolução Industrial, na Inglaterra do final do século 18. Ele sugere a divisão social do trabalho e a incorporação de novas tecnologias de energia. A indústria, de forma geral, transforma elementos da natureza em objetos fabricados por máquinas operadas pela mão do homem.

Conte à turma que as primeiras fábricas brasileiras dedicavam-se à produção de bens não-duráveis, como tecidos e alimentos. A partir dos anos 1930 e, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, o nosso parque industrial diversificou-se e passou a produzir os chamados bens duráveis automóveis e eletrodomésticos e produtos da indústria de base (cimento, petroquímica e siderurgia).

Instigue a curiosidade da garotada sobre outros aspectos históricos referentes a Operários: aponte os elementos de fundo e os detalhes sobre as figuras humanas. O que sugere o semblante das pessoas? Alguém arrisca dizer qual era a intenção da artista? O que a pintura está anunciando? Há nela alguma denúncia social? (Veja mais informações sobre a industrialização em São Paulo no quadro abaixo.) Hoje, como poderíamos retratar uma cena de trabalhadores?

Anote as hipóteses citadas, escolhendo as principais. Faça os esclarecimentos necessários e proponha uma pesquisa sobre urbanização, industrialização e imigração no início do século 20. Sugira que os alunos elaborem textos sobre o período eles podem ser ilustrados com fotos, gravuras e desenhos relativos à época.

De olho nos elementos visuais da tela
- De início, incentive comentários sobre os aspectos visuais do quadro por meio de algumas questões
- Como os personagens estão organizados?
- Há uma geometria que dá ordem aos elementos?
- Os personagens se agrupam ou são mostrados de forma isolada?
- Quais as cores usadas pela pintora?
- O que são os cilindros verticais no canto superior da tela?
- Que cidade é essa?
- Quem são as pessoas representadas? Elas pertencem a diferentes raças ou classes sociais?

Os estudantes devem perceber que há negros, brancos, japoneses, mestiços, homens, mulheres e crianças de várias idades formando a cena. Ressalte a postura das pessoas: elas estão todas de frente, tendo apenas a cabeça e parte do colo aparecendo. Essa pose sugere padronização e anonimato, apesar dos acessórios individuais. Será que os alunos conseguem distinguir alguém famoso? Mário de Andrade (1893-1945), autor de Macunaíma, é o homem de óculos no meio das pessoas; Oswald de Andrade (1890-1954), o poeta que foi casado com Tarsila, está no canto superior da pintura. Mostre assim que há tanto pessoas humildes, do povo, quanto intelectuais e artistas naquela "multidão" representada.

Conte que Nádia Battella Gotlib aponta em seu livro que os rostos, surreais, levitam, suspensos, tal como o próprio rosto da artista no seu famoso Auto-Retrato. A mensagem, porém, não é mais de beleza radiante. É de miséria e dor. Cada um deles exibe, de modo marcante, a sua própria fisionomia. Algumas delas a artista constrói, inclusive, com base nos traços de pessoas conhecidas. Há força em cada uma dessas expressões que fitam, de frente e corajosamente, o espectador.

É hora de comparar as figuras

Depois dessa análise, teça comentários sobre a formação da pintora e contextualize sua produção. É hora então de aproveitar Operários para trabalhar semelhança e diferença com a garotada de 1ª a 4ª série. O aluno vai fazer composições próprias, no plano ou no espaço, e notar como cada elemento do conjunto possui um caráter especial, individual, único.

Peça às crianças que reúnam objetos variados (latinhas, tampinhas, roupas, canetas, folhas de árvores etc.). Ensine a turma a juntar o que é semelhante, ou seja, constituir uma série, e o que apresenta pequenas alterações (de cor, forma, tamanho, rótulo, características), formando subgrupos. Pergunte o que é igual e o que é diferente em cada grupo. Faça uma reflexão sobre o mundo industrial, a produção em série e a multiplicidade das coisas na natureza e na cultura. As crianças devem criar colagens ou objetos artísticos inspirados em figuras geométricas conhecidas, como triângulos, círculos, ou mesmo estrelas, figuras humanas etc. Observe a forma poligonal de Operários.

Proponha ainda a montagem de um painel com fotos dos alunos e de seus parentes, criando uma discussão sobre a diversidade e a convivência de tipos, comportamentos, características, sexos e raças. Volte a Operários. Procure construir o significado da pintura: a proposta de união e de construção social de vários tipos e classes, em que todos serão os "operários" de uma nova sociedade brasileira. Ajude as crianças a montar uma linha do tempo com as obras da artista, distinguindo o que caracteriza a geométrica fase pau-brasil e a surrealista antropofágica.

                                                  Retrato de uma paulicéia trabalhadora

                                                 

Refinações de Milho Brasil, em 1930:
setor alimentício é uma das pontas da
industrialização em São Paulo.
Foto: Reprodução/ Sommer Andrey


Em 1933, quando Tarsila pintou Operários, São Paulo já havia se consolidado como o principal centro urbano e industrial do país. O acúmulo de riquezas originadas pelos negócios do café, as importações e exportações e a presença de imigrantes possibilitaram o crescimento da cidade.
O desenvolvimento industrial deu-se com a instalação de fábricas de tecidos, alimentos e vestuário. Até 1920, entre 6% e 10% da população morava em cidades. Nos 20 anos seguintes, esse porcentual aumentou para 31%. A maior parte dos trabalhadores que vieram de outros países e de regiões brasileiras chegava em São Paulo. Hoje, mais de 10 milhões de pessoas vivem em pouco mais de 1500 quilômetros quadrados na capital paulista, a maior cidade da América do Sul. 


 O QUE É O MODERNISMO 


Estudar a tela Operários é uma boa oportunidade para despertar a curiosidade da turma sobre o modernismo, movimento estético que sacudiu as artes plásticas, a literatura, a música e outras manifestações artísticas mundiais no final do século 19.
      
                                                                   Fonte: Revista Nova Escola

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